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“Dunga e as lições alemãs”

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Por Lucas Galindo*

A (re)efetivação de Dunga no comando da seleção brasileira está bastante ligada a dois fatores: retrospecto, pelo bom aproveitamento e títulos conquistados; e resignação, algo como uma represália da CBF a quem tanto vem lhe castigando: uma figura nada simpática à imprensa, menos ainda à que adora privilégios. Mas nos voltemos à causa objetiva da mudança de comando, a humilhante eliminação da Copa do Mundo nas semifinais.

Muito se tem ovacionado – com justeza – a virtuosa seleção alemã de futebol, tetracampeã mundial no Brasil exibindo muita versatilidade em seu jogo coletivo, com extrema vocação para a eficiência. 

Certamente, uma referência que muitos tomarão como parâmetro a alcançar, assim como foi com a Espanha e seus passes em 2010. 

Cabe aqui destacar que muito do que se está exaltando não são exatamente grandes novidades, tampouco perfaz um futebol ideal, que simplesmente transforma todos os outros estilos em inferiores. 

Citemos: essa característica alemã é histórica, uma regra em se tratando de copa do mundo. Não à toa, é a equipe que de 18 edições das quais participou, chegou 14 vezes às semifinais, sendo também recordista isolada em número de finais, total de 8 com a de 2014, quase sempre sem a individualidade de um grande craque, mas com muita aplicação coletiva. Óbvio que fatores como preparação, visão de longo prazo, persistência (essas duas últimas se materializam na manutenção do técnico Joachim Löw durante 8 anos, sem até então ter ganho qualquer título) e especialmente uma equipe entrosada e de inquestionável qualidade, tornaram ainda mais poderosa essa objetividade.

Reconhecer o êxito desse projeto é forçosamente refutar teses de ocasião como as de que a Alemanha foi “simpática”, demonstrou “afeto” com a seleção brasileira em seu momento mais duro na história das copas. Houve até quem disse que seus jogadores combinaram, no intervalo do fatídico 7×1, uma diminuição de ritmo para facilitar uma possível reação do Brasil – lembremos que o 1o tempo terminou em “apenas” 5×0, o que por si já anula (mais) essa teoria da conspiração. As atitudes germânicas, ainda que acessórias diante de uma estratégia de muito maior grandeza, tinham o evidente propósito de criar um ambiente ainda mais favorável para uma já provável vitória. O atleta bávaro Thomas Müller, por exemplo, deixou transparecer o quão teatral era a tal cordialidade, quando, poucas horas depois de erguer a taça, mandou que uma jornalista colombiana enfiasse onde quisesse o troféu chuteira de ouro concedido ao também colombiano James Rodríguez por ter sido artilheiro isolado do torneio. (Veja reportagem em http://espn.uol.com.br/noticia/425365_thomas-muller-se-irrita-com-pergunta-e-dispara-a-reporter-pode-colocar-a-chuteira-de-ouro-em-outro-lugar )

Outro equívoco a ser combatido é o de que agora temos uma fórmula a pôr em prática, quando na verdade temos não mais que um bom exemplo de que, potencializando as melhores (e próprias) características é que se chega ao melhor rendimento. E as nossas, do Brasil, em detrimento de tamanho pragmatismo alemão, sempre foram a genialidade, criatividade, ginga, improviso e afins, as quais infelizmente ficaram prejudicadas tanto pelas escolhas esdrúxulas da CBF e comissão técnica, quanto sobretudo pela falta de material humano para exercê-las.

Com isso, afirmo que o povo brasileiro é o maior vencedor da copa do mundo 2014. Não pelo resultado que obteve na competição, mas por tê-la alcançado, construído e realizado de forma impecável, espantando toda espécie de histeria catastrofista que se viu por aqui. 

À Alemanha, só há mesmo que se aplaudir, mas com o cuidado de não vislumbrá-lá infalível. Do jeito que anda a dinâmica do futebol, logo logo aparece um adversário capaz de superá-la… (quem sabe o outrora “imbatível” Brasil?)

*Lucas Galindo é diretor de Juventude da Federação dos Bancários Bahia e Sergipe, e membro da direção estadual da União da Juventude Socialista (UJS)

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