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Filhos Marinheiros, Pais Faroleiros

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Arlicélio Paiva, professor doutor da UESC, Ilhéus, Bahia.

Arlicélio Paiva, professor doutor da UESC, Ilhéus, Bahia.

Por: Arlicélio Paiva, professor doutor da UESC, Ilhéus, Bahia

Os povos Austronésios que viviam no sudoeste da Ásia foram os primeiros navegadores oceânicos. Eles utilizavam barcos do tipo catamarã para o comércio marítimo e ocupação de ilhas dos oceanos Índico e Pacífico, por volta de 2.000 a.C. Vários outros conquistadores navegaram em busca do comércio e da ampliação dos seus territórios, como: fenícios, vikings, gregos, romanos, árabes, chineses, portugueses, espanhóis, holandeses, dentre outros.

Segundo a mitologia grega, o primeiro farol foi criado na cidade de Náfplio, na Grécia, por Palamedes, um dos heróis da guerra de Tróia, a quem também é atribuída a criação de pesos e medidas e do primeiro alfabeto grego. No entanto, a história comprova que o farol mais antigo do mundo é o de Alexandria, que é considerado como uma das sete maravilhas do mundo antigo, construído no Porto de Alexandria, na Ilha de Faros (daí o termo “farol”), no Egito, por volta de 300-280 a.C. Antes da criação dos faróis do modo que existem atualmente, incêndios em colinas rochosas eram usados para orientar os marinheiros nas entradas dos portos. Com o passar do tempo, o fogo era ateado sobre plataformas elevadas para que os navegantes enxergassem a maiores distâncias, surgindo assim, os faróis.

O Império Romano foi responsável pela construção de vários faróis para facilitar o seu comércio marítimo. Com a decadência do império, tanto o comércio marítimo quanto os faróis se extinguiram, renascendo mais tarde com as grandes navegações europeias. O faroleiro mais conhecido dessa época (por volta de 1.450) trabalhava em Gênova na Itália e se chamava Antônio Colombo, tio do navegador Cristovão Colombo.

Além de ser guardião e de cuidar de todos os detalhes para o bom funcionamento do farol, muitas vezes o faroleiro enfrenta condições de mares revoltos, na difícil tarefa de posicionar boias de sinalização para evitar a tragédia de marinheiros. Assim, são filhos e pais, aqui comparados aos marinheiros e faroleiros, respectivamente.

Todo bom marinheiro sabe que existem regras para uma navegação segura, não podendo prescindir delas sob risco de naufrágio. Do mesmo modo, espera-se sensatez dos filhos ao atravessarem o “mar da vida”, muitas vezes revolto, para que não caiam em profundezas abissais. Para isso, eles devem se comportar de acordo com a conduta de urbanidade e que jamais dispensem os fundamentos da moralidade. Assim como o faroleiro instala boias e coloca o farol em funcionamento para alertar os marinheiros dos perigos, os pais também sinalizam para os seus filhos, por intermédio dos ensinamentos, a maneira mais adequada de se comportarem.

Um marinheiro prudente sabe que deve agir com cautela ao aproximar a sua embarcação de pequenos barcos para evitar colisões ou originar ondas que possam provocar instabilidade na navegação. Dos filhos, espera-se que, ao conviver com pessoas menos privilegiadas sob qualquer aspecto, não aproveitem da situação favorável para agir com desonra em relação ao seu semelhante, a fim de levar algum tipo de vantagem.

Por mais que os pais faroleiros sinalizem as rotas que os seus filhos marinheiros devem navegar, sempre há o perigo de correntezas que os tirem do rumo traçado, podendo levá-los para situações de intempéries, nas quais se espera que ajam com prudência para que saiam fortalecidos dessa inevitável experiência que vai gerar novo aprendizado. Como disse Epicuro – “Os grandes navegadores devem sua reputação aos temporais e tempestades”.

Os filhos marinheiros precisam navegar com autonomia. Na opinião do escritor Machado de Assis – “Não é em terra que se fazem os marinheiros, mas no oceano, encarando a tempestade”. Portanto, navegar se aprende navegando! Os pais faroleiros temem que os seus filhos marinheiros fiquem à deriva, sem destino e sem propósito na vida. Por mais tempestuosas que sejam as experiências enfrentadas pelos filhos, os pais gesticulam com entusiasmo para que eles encontrem um novo rumo, já que “Não existe vento favorável para o marinheiro que não sabe aonde ir” (Sêneca).

Por fim, cabe aos pais faroleiros ficar na torcida para que os filhos marinheiros, ao enfrentarem as “fúrias dos mares da vida”, onde exigem reflexões antes da tomada de decisões, sigam o “Argumento” de Paulinho da Viola – “Faça como um velho marinheiro que, durante o nevoeiro, leva o barco devagar”.

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