Por Rodrigo Cardoso*

Na semana passada escrevi sobre a satisfação de ter acompanhado a apresentação do Plano Municipal de Redução de Riscos, durante audiência pública na Câmara de Ilhéus.

Comentei como é alentador, para a sociedade civil, vislumbrar a possibilidade de enfrentar um problema gravíssimo — o risco de desmoronamentos e inundações — a partir de um planejamento com participação popular, baseado em rigor técnico e espírito público colocado acima das disputas partidárias e dos interesses imediatos.

No entanto, bastaram poucos dias para que Ilhéus presenciasse um episódio que representa o oposto dessa lógica.

A demolição dos antigos armazéns do Porto de Ilhéus, realizada de forma abrupta, ocorreu sem consulta a órgãos de controle social e nenhum diálogo com a população, completamente surpreendida pela ação.

Além do desrespeito à memória histórica da cidade — que nasceu justamente em torno do porto —, a falta de transparência sobre o que se objetiva fazer com o local evidencia que o problema não se resume à comunicação deficiente da prefeitura.

Em entrevista ao blog Pimenta, o prefeito demonstrou não saber bem o que pretende, limitando-se a um vago “quem sabe, uma PPP…”, em referência ao instituto das Parcerias Público-Privadas. Nada surpreenderá se, nos próximos dias, surgir uma nova “maquete digital” reluzente, dessas que viralizam nas redes sociais, mas raramente saem do papel.

O fato é que, mais uma vez, Ilhéus padece com a ausência de um projeto público consistente. Em vez de planejamento, reina o improviso. Em lugar do diálogo, prevalece a autopromoção.
A política local parece ter definitivamente ignorado a possibilidade de se construir um compromisso com o desenvolvimento sustentável e decidido optar pela busca incessante de likes e curtidas, como se governar fosse apenas administrar a própria imagem.

Enquanto isso, a cidade segue perdendo tempo, memória e oportunidades.
E o que se destrói, nesse processo, não são apenas prédios históricos — é a própria capacidade de Ilhéus planejar o futuro com seriedade e visão coletiva.

*Rodrigo Cardoso
Presidente do Sindicato dos Bancários de Ilhéus
Representante dos Trabalhadores no Conselho da Cidade