Por Caio Pinheiro
Antes que novembro entardeça, preciso falar dele, do meu ponto de vista, da perspectiva de um homem negro. De reconhecimento nacional, novembro é o mês dedicado ao aprofundamento das reflexões em torno da Consciência Negra. Decisão cara num país de passado escravocrata e racismo estrutural. Isso mesmo! Aos ouvidos convenientes da branquitude (todos que defendem o privilégio do branco em detrimento do desprivilegio dos negros) pode soar desagradável, mas a verdade é que o racismo ainda determina (estrutura) nossas relações sociais em pleno século XXI, sempre em desfavor daqueles (as) que trazem no corpo as marcas d’África.
Um racismo que interdita negros e negras de ascenderem em variadas direções. Que justificou e justifica essas interdições com argumentos sórdidos e inomináveis. Que segue perversamente reeditando suas justificativas. Racismo que ontem e hoje, continua explicita ou veladamente nos designando enquanto raça maldita.
Para naturalizar a subalternização de negros e negras, argumentos que pareciam superados são convenientemente retomados. Pasme, mas dia desses vir e ouvir um pastor midiáticos afirmar que sendo descendentes de Cam, filho renegado de Noé, fomos sentenciados à desgraça, daí sermos tão poucos ocupando espaços de poder e exercendo profissões prestigiadas socialmente.
Contra isso resistimos! Fizemos e fazemos contrapontos. O racismo tentou, mas seguimos aquilombados, mesmo que alguns de nós tenham sido levados a odiar seus iguais. Se a “branquitude” criou o negro para desumanizá-lo, o negro criou a “negritude” para reafirmar sua humanidade. A negritude impediu que esquecêssemos que descendemos de povos inventivos, criadores de exuberantes civilizações.
Aquilombados, exigimos que o Estado brasileiro reconhecesse a mentira da democracia racial. Desde a invasão em 1500, o Brasil nunca foi um território de relações inter-raciais harmoniosas. Pela democracia racial, o abismo socioeconômico que separa negros, índios e brancos tem que ver com vários motivos, à exceção do racismo, afinal aqui nunca teve Apartheid!
Contudo, nossas conquistas não vieram e virão gratuitamente. Da fundação da Frente Negra Brasileira (1931) à Marcha Zumbi dos Palmares Contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida (1995) superamos muitas adversidades advindas do racismo, mas nossa estrutura social resiste racista.
O racismo longe de ser “reverso”- pois brancos não são interditados por serem brancos -, subsiste enquanto herança maldita da escravidão. Contudo, enquanto racismo e racistas existirem, à despeito dos custos que tivermos de assumir, devemos oferecer resistência.
O racismo é excludente em qualquer circunstância, e superá-lo será difícil, pois há aqueles (as) que se beneficiam dele. Enfim, na minha consciência de homem negro antirracista, existe um futuro Preto, pois Jesus era Preto, Exu é caminho e nem todo Messias é Messias de todos. Axé!