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Eu sei que vocês virão

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Arlicélio Paiva*

A amizade envolve sentimentos de carinho, respeito e admiração mútuos entre duas pessoas. O amigo sempre se preocupa com o bem-estar do outro. Por essa razão, a amizade é indispensável em nossas vidas. Afinal, os amigos nos ajudam a moldar o que nos tornamos, envolvendo questões importantes relacionadas ao caráter, à moral e à ética.
Os filósofos gregos antigos tinham diferentes concepções sobre a amizade. Há que se considerar que a conjuntura da época era completamente diferente da atual. A Sócrates e a Platão são atribuídas percepções da amizade que envolvem egoísmo e frieza. Alguns autores consideram que ambos achavam que não poderia ter amizade sem utilidade. No entanto, Sócrates assinalava que, “Para conseguir a amizade de uma pessoa digna, é preciso desenvolvermos em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos”. Enquanto que, para Platão, “A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro”.

A natureza da relação de amizade é fundamental, deve estar embasada no companheirismo, na intimidade e na afetividade. Nesse sentido, Aristóteles destacou a importância do amor entre os amigos. Ele deixou claro que esse amor não estava relacionado à utilidade, tampouco ao prazer. É o amor duradouro, que envolve admiração pela conduta e honradez dos amigos, que faz com que estejam sempre presentes na vida um do outro. Pelo jeito, Mario Quintana concordou com o que disse Aristóteles, ao afirmar que “A amizade é um amor que nunca morre”.

A quantidade de amigos pouco importa, como ressalta o Padre João Baptista Zecchin “Não há florestas de ipês. Há ipês nas florestas. Um aqui, outro lá. Como não há multidão de amigos. Há amigos na multidão. Raros, consistentes, mas poucos. O ipê marca sua presença na paisagem, como o amigo marca sua presença na memória”.

Os amigos são fidedignos e altruístas, como na relação que havia entre Jesus e seus discípulos (Judas não era amigo de Jesus!). Além da profissão de fé, havia entre eles, laços de amor e amizade. Próximo da sua crucificação, mais uma vez, Jesus ressaltou a importância dessa relação – “Não há amor maior do que este: dar a vida pelos amigos” (João 15:13).

O psicólogo norte-americano Carl Rogers (1902-1987) é conhecido por ter desenvolvido a Psicologia Humanista, que revolucionou o campo da psicoterapia, cujo modo de agir era centrado na própria história das pessoas. Rogers dizia que a amizade “é a aceitação de cada um como realmente ele é”. Nesse sentido, Millôr Fernandes ressaltou que “a verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades”.

Diversas pesquisas feitas por várias universidades ao redor do mundo indicam que a amizade faz bem para o coração. Além do sentido físico, relacionado à saúde do órgão, essa afirmação pode ser entendida também pelo sentido metafórico. As relações sociais ativas e salutares, principalmente quando são estabelecidas com as pessoas com as quais temos identificação e gostamos, contribuem para que os indivíduos envolvidos se tornem mais saudáveis e felizes.

Sabedores da importância da amizade, Fernando Brant e Milton Nascimento afirmaram na “Canção da América” que “Amigo é coisa pra se guardar / Debaixo de sete chaves / Dentro do coração…/ …No lado esquerdo do peito / Mesmo que o tempo e a distância digam `não`”. Renato Teixeira também ressaltou o valor da amizade na canção “Amizade Sincera” – “A amizade sincera / É um santo remédio, é um abrigo seguro / É natural da amizade / O abraço, o aperto de mão, o sorriso / Por isso, se for preciso / Conte comigo, amigo, disponha / Lembre-se sempre que, mesmo modesta/ Minha casa será sempre sua / Amigo”. Alceu Maia e Luciana Carvalho, compositores da canção “Tesouro Maior”, cantada por Joyce Cândido, afirmaram que “Amigo é o tesouro maior que se encontra na vida / Amigo é sempre chegada, nunca despedida… / …Encontrar um amigo é ter a certeza / Que existe alguém que se pode contar / É poder, sem receio, em voz alta sonhar / Dividir alegrias, tristezas, o medo e até solidão / É dormir com a certeza que alguém te tem no coração”. De acordo com Francis Bacon, “A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas”.

O ilusionista argentino René Lavand contava uma história durante as suas apresentações de que uma determinada guerra havia chegado ao fim e, quando todos estavam partindo em retirada, um soldado pediu permissão ao capitão para retornar ao campo de batalha a fim de resgatar o seu amigo. O capitão negou o pedido, argumentando que era inútil, pois o soldado que se encontrava em batalha, certamente, estava morto. No entanto, o soldado desobedeceu ao capitão e partiu em disparada ao encontro do seu amigo. Tempos depois, ele voltou carregando o seu amigo morto em seus braços. Ao ver a cena, o capitão esbravejou, dizendo que ele havia alertado que era inútil ter ido. O soldado então retrucou – Não, meu capitão, não foi inútil. Quando eu cheguei lá, ele ainda estava vivo. Mesmo ferido, sorriu para mim e me falou: eu sabia que você viria”.

Amigos, eu sei que vocês virão! Saibam vocês que eu também irei.

*Arlicélio Paiva é Engenheiro Agrônomo (UFBA), Doutor em Solos (UFV) e Professor do Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais da UESC, Ilhéus, Bahia. Insta: @arliceliopaiva

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