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A obstinada e irracional luta do bem contra o mal

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Arlicélio Paiva

O fanatismo é o estado psicológico de entusiasmo exagerado, impetuoso e desprovido de razão, revelado por alguém, por alguma ideia ou por alguma doutrina política ou religiosa, que pode levar a diversos tipos de intolerância. O tipo mais comum de fanatismo é o fundamentalismo religioso.

Um dos casos de fanatismo religioso mais estarrecedor da história recente aconteceu em novembro de 1978 em Jonestown, Guiana, quando o reverendo Jim Jones (1931 – 1978), líder de uma seita religiosa, levou ao suicídio 913 fanáticos, por ingestão de cianeto, incluindo 304 crianças e adolescentes. Os fanáticos assassinaram um dos seus membros que tentou evadir e, também, um congressista e três jornalistas, totalizando assim, 918 mortos. Um dos jornalistas sobreviventes relatou que os fanáticos da seita buscavam uma alternativa à ordem social estabelecida.

Outra forma de fanatismo, também importante, é o fanatismo político. Esse modo de fanatismo oferece riscos à sociedade, semelhante ao fanatismo religioso. Os fanáticos políticos são contaminados por ideias extasiantes e entorpecedoras que os fazem acreditar que eles têm acesso exclusivo a verdades absolutas. Eles dispensam a evidência dos fatos e sempre têm a palavra final. Tal atitude, confirma o que disse António Prates – “O fanatismo e a inteligência nunca moraram na mesma casa”. Os fanáticos políticos ficam presos em dois conceitos: o de bem, defendido por eles; e o de mal, representado pelo que os outros pensam. Por mais infundada que seja a sua ideia, ela é sempre inquestionável, já que, segundo Friedrich Nietzsche, “…o fanatismo é a única forma de força de vontade que mesmo os fracos e inseguros podem alcançar”. O maior exemplo de fanatismo político é o nazismo – movimento político e social de extrema-direita que surgiu na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial e provocou o extermínio de seis milhões de judeus e outras minorias, como negros, homossexuais e ciganos.

Alguns especialistas consideram que o fanatismo político é um tipo de transtorno psicopatológico. Essa disfunção pode evoluir para um distúrbio psiquiátrico. Outros especialistas acreditam que o sujeito fanático é portador de uma psicopatologia profunda e age de maneira irracional e com selvageria. Uma das características mais marcantes dos fanáticos é sentir ódio de quem discorda deles. Nesse sentido, vale destacar as palavras de Voltaire: “Quando o fanatismo gangrena o cérebro, a enfermidade é incurável”.

Os indivíduos fanáticos, isoladamente, ou em grupos organizados, sempre existiram. Eles se tornam mais numerosos e mais ativos quando encontram um líder que os encorajam ou dá legitimidade aos seus atos, embasados na obstinação irracional. Corroboram com essa assertiva as oportunas palavras de Andre De Rose: “O fanatismo só ganha força em grupo, por sorte, são vários fracos juntos”. Suas ideias são verdades absolutas, eles acham que são tão perfeitas que querem impô-las a todos, como bem ressaltou Winston Churchill: “Fanático é quem não pode mudar de ideia e não quer mudar de assunto”.

Nos tempos atuais, o fanatismo encontra-se fantasiado, mais uma vez, por um verde-amarelismo exacerbado, com ideias nacionalistas fascistas, disseminando ódio e violência contra a Soberania Popular e o Estado Democrático de Direito. Nesse sentido, Denis Diderot afirma que: “Do fanatismo à barbárie não há mais do que um passo”. A canção “Paisagem da Janela” (Fernando Brant e Lô Borges), composta em plena ditadura militar, ilustra muito bem os acontecimentos atuais: “…Quando eu falava dessas cores mórbidas / Quando eu falava desses homens sórdidos / Quando eu falava deste temporal / Você não escutou…”.

Esses fanáticos se encaixam muito bem no perfil dos moradores do planeta fictício “Arrakis”, criado pelo escritor Frank Hebert na saga “Duna”: “Eles não são loucos. Eles são treinados para acreditar, não para saber. A crença pode ser manipulada. Só o conhecimento é perigoso“.

Por fim, é inócuo argumentar com os fanáticos, tentando fazer com que eles entendam ou aceitem uma ideia diferente daquela que foi implantada na sua cabeça. Logo: “Não se pode raciocinar com os fanáticos. Temos de ser mais fortes que eles” (Alain). Nesse sentido, o tempo de transigir já passou, deve-se obrigá-los a cumprir o conjunto de leis, normas e regras que regulam e organizam o funcionamento do Estado brasileiro, mais conhecido como Constituição Federal.

Sem anistia!

*Arlicélio Paiva é Engenheiro Agrônomo (UFBA), Doutor em Solos (UFV) e Professor do Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais da UESC, Ilhéus, Bahia. Insta: @arliceliopaiva

1 comment

  1. Claudio 24 janeiro, 2023 at 20:01 Responder

    Texto espetacular! Diz, exatamente, da situação pela qual passa o Brasil, na atualidade. Conheço dois graduados em História, que apoiam essas atitudes nazistas. Também, conheço gente instruída e viajada, que lê a Bíblia todos os dias, mas diz ser favorável ao extermínio da população mais pobre e que não trabalha.

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