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Gratidão

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Fábio Lopes*

Instituto Nossa Senhora da Piedade. Turma do 3° Ano integral do Ensino Médio. Cerca de 60 “cobaias” numa sala com vista traseira para a quadra aberta de futebol com mini-gol e de basquete.

“Olha, vocês, que não querem assistir à aula, vão ali no Baitakão, e peçam um ‘xersburguer’ com Coca-Cola”. Parênteses para a prolação do nome do conhecido sanduíche chamado cheeseburger, acompanhada do gesto com as mãos, como se fosse um lanche de uns 50 centímetros. Foi uma verdadeira graça não pela peculiar, proposital e irônica pronúncia, mas pela inusitada atitude do diferenciado professor de História para que alunos, que conversavam durante a aula, se retirassem da sala. O riso foi maior, quando ele renovou o ‘convite’ e apontou diretamente para os tais ‘elementos’. Até então nunca se vira e jamais se repetiria inesquecível bronca. Os aprendentes se desculparam, não saíram, e a disciplina estava mantida, naquele emblemático 1992.

Assim, fui agraciado pelo conhecimento, sabedoria e ácido bom humor de Carlos Roberto Arléo Barbosa. Já o conhecia muito antes desse episódio por meio das palavras de meu mentor e pai Paulo Lopes da Silva. Foram imortais, colegas da Academia de Letras de Ilhéus (ALI) e do Instituto Histórico e Geográfico de Ilhéus (IHGI). Respectivamente, historiador, e escritor e poeta; natural de Jequié, e cidadão de Itacaré. A esta altura, o sonetista, haicaista e trovador já puxou a cadeira para o educador, literato e historiógrafo sentar-se à mesa para a sessão dos notáveis que se radicaram, em Ilhéus, como Sosígenes Costa e Edgar Souza, e por que não dizer honrando a tradição do fundador e primeiro presidente da ALI, Abel Silva Pereira, e do primeiro-secretário e também membro-fundador da entidade, Clarêncio Gomes Baracho.

Naquele mesmo ano, eu me destacaria numa apresentação sobre Inconfidência Mineira. Enquanto os colegas de grupo falavam da história registrada nos livros, eu comentaria sobre os Autos de devassa, a partir de um documentário exibido – dias antes – pela TV Bandeirantes. Recebi elogios do mestre e nota máxima na apresentação oral. Foi quando finalmente tive coragem de me identificar, no intervalo da aula, como filho de Paulo Lopes, que partira dois anos antes, em 1990.

Inscrevi-me em Licenciatura em História, fugindo do curso de Direito, na Universidade Estadual Santa Cruz (Uesc). Aprovado, rasparam minha cabeça, mas não me matriculei. Talvez hoje eu me referisse ao meu querido mestre como colega. Entretanto, mesmo não seguindo nesta fascinante área que estuda o passado para compreender o presente, tornei-me docente universitário e saiba que o senhor, junto com o meu genitor – seu confrade –, foi uma das minhas principais inspirações, quando começo a lecionar aos 25 anos de idade. A oratória e a capacidade de declamar. A personalidade e a retidão no caráter.

Deveria ter lhe procurado mais vezes para lhe apresentar minha singela coleção de 14 ‘troféus’ entre títulos como professor homenageado, patrono e paraninfo por diversas instituições particulares de ensino superior da capital baiana. No entanto, sei que isso não lhe envaideceria, porque um verdadeiro imortal é afeito à simplicidade. Ou seja, mais humilde se enverga e agradece quanto mais alto ele voa. Agora, ele está voando, a caminho do Criador. Agora, ele brilha na plêiade celestial. Agora, ele para a lição e vira verbete da história.

* Fábio Lopes é publicitário e professor universitário.

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